segunda-feira, 14 de maio de 2012

Em que consiste a “Teoria dos dois mundos” defendida por Platão?


Platão (428/7-348/7 a. C) é marcado em toda a História da Filosofia como sendo um grande propagador das ideias de seu mestre, o também filósofo Sócrates (470/469-399 a. C). A sua obra literária, constituída de diálogos, tem Sócrates como o personagem principal, sempre envolvido em discussões com os mais diversos tipos de pessoas da Grécia. Deste modo, fica difícil estabelecer um ponto onde termina o pensamento socrático e onde se inicia o pensamento de Platão.
Porém, no momento em que Platão inicia sua discussão sobre a noção de ideia, como essência da coisa em si, independente do intelecto e de todas as outras coisas, o seu pensamento começa a tomar ares de algo próprio. Platão inicia com este estudo, um método de pesquisa de característica matemática, colocando um principia e aceitando aquilo que está de acordo com ele, rejeitando o que está em desacordo com este mesmo principio. Segundo Sócrates, esta é uma “ação de geômetra”, que propõe hipóteses das quais se extrai as consequências lógicas.
A “Ideia” para Platão não representa um simples conceito ou uma mera representação mental. Ela representa uma causa de natureza não física, uma realidade inteligível, ou seja, representa aquilo que o pensamento mostra quando está livre do sensível, constituindo o chamado “verdadeiro ser”. Outro termo usado por Platão para representar esta sua noção de Ideia é Paradigma, ou seja, a Ideia é um modelo permanente de cada coisa (como cada coisa deve ser).
Todas as Ideias existem “em si” e “por si”, ou seja, não estão relacionadas a nenhum sujeito particular, nem podem ser moldadas à vontade de ninguém especificamente. Esta característica permite compreender que as Ideias não podem ser mais do que realmente são. Isto quer dizer que elas se mantêm sempre da mesma maneira, puras, imóveis e impossíveis de se tornarem outra coisa. Por exemplo, a ideia de “Belo em Si” não pode sob-hipótese alguma se tornar feia. Para que algo seja considerado feio, deve estar incluído apenas na Ideia de “feiura”.
As Ideias habitam uma esfera própria, mantendo suas características de unidade, pureza e imobilidade. Mas elas se manifestam em outro plano, no das coisas sensíveis, ou seja, no nosso mundo. A partir de então, tem-se uma dualidade de mundos na filosofia de Platão no que diz respeito às coisas que existem e que podem ser conhecidas. Estes dois mundos são conhecidos pelos nomes de Inteligível (das Ideias) e Sensível (das Representações). O período da vida filosófica de Platão em que aconteceu esta descoberta do inteligível, e consequentemente, a sua relação com o sensível, é conhecido pelo nome de Segunda Navegação. Trata-se do abandono de Platão em relação aos estudos unicamente voltados aos sentidos e às coisas físicas, como faziam os naturalistas anteriores a ele. O filósofo grego valoriza acima dos sentidos, o raciocínio puro, que é captado pelo intelecto, em outras palavras, o verdadeiro conhecimento.
Platão, após fazer esta distinção entre dois mundos, aplica estes conceitos à esfera do ser humano, construindo uma concepção dualista de homem. Aliás, este ponto é muito importante para a compreensão da Filosofia de Karl R. Popper, principalmente para saber quais foram as bases para sua ideia de dualismo e mais tarde de pluralismo.

O Mundo das Ideias ou Inteligível

Platão chamou o conjunto de Ideias de “Hiperurânio” (acima do céu), termo usado na sua obra Fedro. Neste “mundo” existem ideias para todas as coisas (Ideias de valores estéticos, Ideias de valores morais, Ideais de entes corpóreos, etc.). Estas ideias caracterizam a chamada “substância”, que é desprovida de cor, forma ou qualquer outro aspecto físico. O importante é que todas elas são incorruptíveis e não estão sujeitas a geração.
Para Platão, ninguém poderia alcançar este mundo “superceleste”, a não ser que possuísse as condições necessárias para tal feito, no caso, possuir o conhecimento das verdadeiras causas. Apenas o filósofo, aquele que consegue desenvolver a “parte mais elevada de sua alma” poderia conhecer o Mundo Inteligível. Ele, ao alcançar tal conhecimento, adquire as capacidades para bem viver, tanto sua vida individual, como social. Pode contemplar tais idéias e usá-las no seu mundo. O filósofo contempla o sol e pode voltar à caverna.
Diante disso, pode-se concluir que a teoria das Idéias de Platão pretendeu sustentar que o sensível só pode ser explicado mediante o recurso do supra- sensível, o relativo mediante o absoluto, o sujeito a movimento mediante  o imutável, o corruptível mediante o eterno. Esta é a meta do pensamento de Platão, a busca de uma “condição incondicionada” para o conhecimento, o encontro com o absoluto fundamento da verdade. O “verdadeiro ser” é constituído pela “realidade inteligível”.
Mas como é possível aos homens ultrapassarem o mundo das aparências ilusórias? Platão supõe que os homens já teriam vivido como puro espírito quando contemplaram o mundo das ideias. Mas tudo esquecem quando se degradam ao se tornarem prisioneiros do corpo, que é conhecido como “tumulo da alma”. Pela teoria da reminiscência, Platão explica como os sentidos se constituem apenas na ocasião para despertar nas almas as lembranças adormecidas. Em outras palavras conhecer é lembrar. No dialogo Menon Platão descreve como um escravo, ao examinar figuras sensíveis que lhe são oferecidas, é induzido a lembrar-se das ideias e descobre uma verdade geométrica.

O Mundo Sensível ou das Formas

Este mundo seria um conjunto de cópias do que existe no Mundo Inteligível, construídas a partir de um artífice, que Platão denomina de “Demiurgo”. Este “criador” conseguiu dar forma a uma matéria-prima que possuía, tomando por modelo, as idéias eternas. No primeiro volume da coletânea Historia da Filosofia, seus autores Giovanni Reale e Dario Antiseri escrevem sobre esta questão do
Demiurgo e sua criação, baseados no texto de Platão:

O mundo do inteligível (modelo) é eterno, como eterno é também o Artífice (a inteligência). O mundo sensível, ao contrario, construído pelo Artífice, nasceu, isto é, foi gerado, no sentido vervê-lo e tocá-lo, pois ele tem um corpo e tais coisas são todas sensíveis; e as coisas sensíveis (...) estão sujeitas a processos de geração e são geradas”.1

Segundo Platão, o Demiurgo criou este mundo por amor ao bem e por “bondade”, portanto o mundo não pode ser corrompido, pois não há traço de corrupção em sua formação. Entretanto, o mal vem da irredutibilidade da “espacialidade caótica”, ou seja, da matéria sensível ao inteligível (do irracional ao racional).
Portanto, o mundo sensível, é uma espécie de imitação do inteligível, tal qual uma pintura de uma árvore é uma imitação da árvore verdadeira.
 Aliás, este conceito de imitação no que diz respeito à arte é levantado por Platão em sua obra A República como tendo grande relação à fundamentação do mundo sensível e do inteligível. Segundo ele, o objeto artístico é uma imitação de um objeto da natureza, que por sua vez, já é uma cópia de algo existente no mundo composto pelas idéias. Logo, há uma escala de imitação em relação aos seres.
Platão coloca também uma questão dento de sua concepção de mundo sensível, o tempo. Para ele, o tempo consiste numa espécie de imagem móvel do eterno, nascida junto com o mundo. O tempo não existia antes da criação do mundo. Com isso, pode-se perceber uma estrita relação do tempo com as coisas que compõem o mundo. Ambos são criações de um mesmo artífice, oriundas de uma esfera inteligível.

Referênicias:
MAIRINQUE Igor das Mercês (Iniciação Científica-Piic-UFSJ) Disponível em: acessado em 14/05/2012 as 22 horas e 25 min.
1 REALE, Giovanni e ANTISERI, Dario. História da Filosofia. Vol I. P. 143




2 comentários:

  1. Mundo Inteligivel é o Mundo das ideias, descrito no mito da caverna de Platao. ë resumidamente a idéia de que fazemos das coisas, o ideal. Ex: sabemos o que é uma cadeira, independente de sua forma, pela idéia de "cadeira" que possuimos.


    Mundo Sensivel, pelo contrario, seria o Mundo material,o que tocamos. Existe um quadro chamado Escola de Atenas em que Platao e Socrates estao no centro exatamente discutindo sobre isso. Aristoteles aponta pra baixo, pro Mundo sensivel. enquanto platao para o alto, que seria o mundo inteligivel ou das Ideias.


    Com um toque de seu mestre Sócrates, de quem Platão aproveita a noção de logos, está criada a teoria platônica e a distinção dos mundos sensíveis e inteligíveis.

    Platao afirma haver dois mundos diferentes e separados: 1) o mundo sensível, dos fenômenos e acessível aos sentidos; e 2) o mundo das idéias gerais (inteligível), "das essências imutáveis, que o homem atinge pela contemplação e pela depuração dos enganos dos sentidos".[2]

    Platão, assim, tenta superar a oposição de Heráclito à mutabilidade essencial do ser e a posição de Parmênides, para qual o ser é imóvel, relacionando o mundo das idéias ao ser parmenídeo e o mundo dos fenômenos ao devir heraclitiano.

    Para explicar melhor sua teoria, Platão cria no livro VII da República o mito da Caverna, segundo o qual imagina uma caverna onde estão os homens acorrentados desde a infância, de tal forma que não podem se voltar para a entrada e apenas enxergam uma parede ao fundo. Ali são projetadas sombras das coisas que se passam às suas costas, onde há uma fogueira. Platão afirma que se um dos homens conseguisse se libertar e contemplar a luz do dia, os verdadeiros objetos, ao voltar à caverna e contar as descobertas aos companheiros seria dado como louco.

    No mito podemos associar os homens presos à população e o homem liberto a um filósofo. Os homens presos conhecem apenas o mundo sensível, já o liberto conheceu a verdadeira essência das coisas, conheceu o mundo das idéias.

    Marilena Chauí define o pensamento socrático, para quem "o mundo sensível é uma sombra, uma cópia deformada ou imperfeita do mundo inteligível das idéias ou essências".[3]

    O mundo material, assim, somente se torna compreensível através da hipótese das idéias, mas tal afirmativa deixa em voga um problema, já que a existência do mundo das idéias não basta a si mesmo. É necessário admitir um conhecimento das idéias incorpóreas que antecedem o conhecimento fornecido pelos sentidos, que por sua vez, somente alcançam o corpóreo.
    Bibliografia, google.com.br: https://www.google.com.br/webhp?source=search_app#hl=pt-BR&gs_nf=1&cp=31&gs_id=3&xhr=t&q=Mundo+das+Ideias+ou+Intelig%C3%ADvel&pf=p&output=search&scl

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  2. Mundo das idéias, cheio de ilusão e de mistérios que nem sempre conseguimos compreender e mundo das formas concretas que se relaciona fortemente com a questão temporal.Cada um com diferentes aspectos conforme é descrito na teoria dos mundos e explicada por meio do mito da caverna,onde percebe-se que o mundo físico é apenas um tipo de sombra ou reflexo do mundo das formas. E no caso da realidade inteligível o aprendizado é obtido por meio da razão, que não considera relevância na evidência empírica, por não possuir prova concreta, e por apenas utilizar de influências naturais para validar a argumentação, o que é considerado engano para o pensamento científico racional.

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